terça-feira, 29 de setembro de 2015

Quanto da sua vida acontece dentro do Facebook? E fora dele?

Uma festinha entre amigos, a última sobre uma colega da faculdade, experiências e discussões sobre carreira e um convite de casamento. Esses são quatro eventos que ele perdeu depois de excluir seu perfil no Facebook. Já percebeu como nossa vida offline vem acontecendo em torno daquilo que é marcado, postado, comentado no Facebook e em outros sites de redes sociais? Parece que não tem jeito. Se você não tem um perfil, acaba ficando por fora e, pode até, como meu amigo, deixar de ser convidado para um casamento. Exagero? Ou será esse o caminho daqui para frente?

O motivo para ter excluído o perfil no Facebook já daria um novo texto, uma outra discussão. Depois de terminar o namoro ele preferiu excluir o próprio perfil a bloquear, ocultar no feed, ou excluir o perfil dela da lista de amigos. Não queria ficar vendo por onde ela andava, com quem estava e o que fazia. Achava que estava se torturando com aquilo e que ela publicava indiretas para ele ali no Facebook.
Mas naquele mesmo período alguns de seus amigos já começavam a organizar outra festa de reencontro. São amigos de longa data, conheceram-se na escola, na faculdade, no trabalho e encontram-se, de vez em quando, sempre na casa de um deles, para fazer uma festinha e lembrar bons momentos, para rir, beber, se divertir e, claro, fortalecer a amizade. A festa foi marcada, o evento foi criado no Facebook, todos já estavam confirmados. Mas ele não tinha como saber que uma próxima festa já tinha data, pois não estava mais na rede social, e nenhum dos amigos sequer lembrou-se de ligar ou mandar uma mensagem pelo celular. Tudo foi feito pelo Facebook, o espaço usado já há alguns anos para marcar esse encontro. Como são sempre os mesmos convidados, eles sabem que todos estão por ali, online, e por isso mesmo não perceberam que alguém ficara de fora dessa vez. Ele perdeu a festa.

Em outra ocasião, depois de notar a falta de uma colega na faculdade, perguntou para outras pessoas na sala, em um trabalho de grupo, por onde andava aquela colega que não via há semanas, que não aparecia nas aulas. Surpresos e com cara de espanto, o pessoal do grupo entreolhava-se como se ele fosse um extraterrestre ou estivesse fazendo a pergunta mais absurda do mundo. Até que um deles respondeu: "trancou a faculdade e foi morar em Londres, vai fazer alguns cursos por lá antes de decidir qual carreira seguir. Ela avisou pelo Facebook, não esteve aqui, mas escreveu uma mensagem para nós da turma se despedindo e nos marcou no post. Não leu?".

Ele é assistente de Marketing, trabalha em uma equipe que cria estratégias de relacionamento com clientes. Todos os seus colegas de equipe faziam parte de sua rede no Facebook, justamente onde, pouco antes de ele excluir seu perfil, decidiram criar um grupo para trocar ideias, compartilhar textos, opiniões, discutir o que acontece no mercado em relação ao mesmo campo de atuação deles. O grupo tornou-se um sucesso, todos curtiram a ideia de usar a rede para compartilhar aquilo que encontravam sobre experiências e novidades na área de Marketing. Sentiam-se motivados por publicar um vídeo, um texto, uma notícia e depois discutirem pessoalmente na empresa. Porém, ele não conseguia acompanhar, não fazia a menor ideia do que os colegas estavam falando, não tinha acesso aos links compartilhados. Precisava pedir que enviassem para ele por e-mail ou, do contrário, estaria condenado a ficar calado quando o assunto fosse qualquer conteúdo publicado no grupo.

Uma amiga em comum que temos marcou a data do casamento. Nós três já trabalhamos juntos, mas desde que ela saiu da empresa, nos vemos com pouca frequência. Nossa relação se estendeu para além do trabalho, ficamos amigos, muito amigos, e evidente que ela não deixaria de nos convidar para o casório. No entanto, como ela é dessa geração hiperconectada, que usa a Internet e as mídias sociais para fazer tudo e qualquer coisa, e tem certeza de que todos os seus amigos estão no Facebook, decidiu inovar fazendo a lista de casamento pelo site. Sim, isso mesmo. Criou um grupo, selecionou os amigos e o nomeou de lista de convidados do casamento. Explicou que teve a ideia para nos manter atualizados sobre os preparativos, mandar informações sobre a cerimônia, lista de presentes, lua de mel e etc. Mas ele excluiu seu perfil do Facebook e, mais uma vez, ficou de fora. Eu fui convidado. Ele, não.

Quem diria, anos atrás, que alguém hoje faria uma lista de convidados do casamento através dos amigos que estão no Facebook? Nossa antiga agenda de contatos migrou do impresso para o digital. Estamos fazendo essa passagem entre online e offline muitas vezes sem perceber, tornando a tecnologia uma extensão de nossas vidas. Seu amigo acredita que você está sempre por perto, sabe o que ele está fazendo, marca uma festa de aniversário ou um encontro casual pelo Facebook. Discutimos e fazemos trabalho em grupo pelo bate papo do Facebook, onde quer que estejamos. Vagas de emprego, novas ideias, experiências, discussões sobre carreira, tudo isso pode ser compartilhado em grupos abertos ou fechados também na rede social. E agora até lista de casamento é feita nesse site.

Para algumas pessoas isso tudo pode parecer exagero, um absurdo. Campanhas publicitárias já nos dizem para deixar de lado um pouco a Internet e as redes sociais online para viver a vida que existe “lá fora”. A tecnologia facilita bastante nossas vidas, seja para comunicação, trabalho, compras, viagens, trânsito e em diversos outros aspectos. Estamos conhecendo os benefícios e alguns prejuízos – sim, eles existem! – trazidos por essas mudanças em nossas rotinas. Mas uma coisa já está bem definida: não dá para ficar totalmente por fora. O mínimo que seja é necessário para estar conectado ao mundo, às pessoas, ao que acontece a sua volta. Vivemos com a Internet e novas tecnologias e nada voltará a ser como antes. Busque o equilíbrio: não enlouqueça, mas não deixe de “existir” online também. Ou largue tudo e vá morar em uma caverna!

Fonte:
Techtudo