sábado, 20 de junho de 2015

'Vício no celular é bengala para quem tem outros transtornos', diz psiquiatra sobre a nomofobia


Aquela sensação de ansiedade sentida por diversas pessoas quando a bateria do celular acaba e se está longe da tomada, o sinal de internet móvel cai, ou o aparelho é esquecido em algum lugar, já é conhecida por um nome específico nos consultórios psiquiátricos, tão frequentes são os casos de queixa sobre ela: trata-se da nomofobia, uma espécie de medo e angústia de se ficar off-line. Diante da intensificação do fenômeno, o professor de psiquiatria titular da UFRJ Antônio Egídio Nardi realiza nesta quinta-feira, às 20h, uma palestra aberta ao público sobre o tema no Espaço Clif, em Botafogo.

— O uso abusivo do celular, e também de novos meios de comunicação virtuais, vem sendo muito discutido entre os especialistas, tendo em vista o grande número de queixas sobre ele que têm chegado aos consultórios. É um fenômeno novo, que ainda está sendo analisado e pesquisado, e que não sabemos ainda até que ponto é um sinal de adaptação a um contexto novo, de hiperconectividade, ou de fato uma patologia — explica Nardi.

Apesar de já adotado no meio acadêmico, a nomofobia ainda não é tida como uma patologia oficial por ser um fenômeno muito recente e ainda em estudo. Por isso, afirma Nardi, os especialistas precisam ter cuidado para não enxergar doenças ou distúrbios onde não existem — o que, segundo ele, não anula os casos concretos de pessoas viciadas no uso de celular:

— A ansiedade por si só possui uma função saudável para as pessoas. O problema é quando essa ansiedade transborda e torna-se patológica, limitando e atrapalhando o indivíduo, com sintomas físicos e psíquicos de angústia. Nesse sentido, a nomofobia se encaixaria em um tipo de ansiedade patológica chamada de fobia específica. No caso, o medo de ficar desconectado.

Mais do que um mal em si, a nomofobia deve ser vista como um sinal de outros transtornos, afirma Nardi.

— Observo que, em muitos casos, o uso obsessivo do celular acaba sendo uma bengala para outros tipos de transtornos. Há casos de pessoas que têm transtorno de pânico, e encontram em seus smartphones uma segurança para sair de casa e realizar atividades, e por isso ficam o tempo todo no aparelho. O mesmo comportamento é observado em pessoas patologicamente tímidas, por exemplo.

Em geral, o tratamento da nomofobia é feito por meio do que o psiquiatra chama de psicoterapia cognitiva comportamental, que busca ajudar o indivíduo a procurar uma estratégia para melhorar a sua qualidade de vida.

— São poucos casos que envolvem a prescrição de medicamentos. Em geral, a terapia com um profissional de psiquiatria já consegue apresentar melhoras na qualidade de vida dos pacientes.

As inscrições para a palestra de Nardi sobre o tema são gratuitas e podem ser feitas pelo e-mail recepcao@spacoclif.com.br e pelo telefone 3439-7751. O Espaço Clif fica na Rua das Palmeiras, 46, em Botafogo.

O Globo