Eu tenho tudo pra ser ateu, mas não consigo ser. A experiência espiritual sempre acontece diante dos nossos olhos, sentidos e percepções, só que muitos acabam dando outro nome pra tudo isso. Mesmo quem negue a existência de Deus, convive com Ele o tempo inteiro; mesmo que seja pra negá-lo.
Nosso país é laico, vivemos em plena
democracia, com liberdade de expressão a todo vapor, com o estado democrático
de direito em vigor, liberdade religiosa e etc., e é nessa liberdade religiosa
que vivemos que é o lugar onde mora o perigo, pois, os religiosos carregam
sobre os ombros um peso avassalador. Não me refiro do peso imposto por
religiosos fanáticos que eles mesmos carregam e impõem a outros esse peso
nefasto, mas digo do drama de ser religioso (ou alguém que crer em algo) e
receber pressões de todos os lados pelo viés da Moral e da Ética.
Moral eu poderia até tirar, porque a palavra “moral”
advém da maioria, e a maioria não está nem aí, me entende!? Portanto,
religiosos – seja de qual crença for –, sofrem dentro da própria Liberdade Religiosa
que lhe cercam com pressões a viver como “um politicamente correto”, como “um
demasiadamente justo”, e isto é atualmente imposto pelo ‘neo-ateísmo’ que vive
pra apologeticar seu discurso.
Note que na história humana, a anos atrás,
os ateus eram aqueles que viviam na dele, não faziam apologia e nem proselitismo ateísta; só falavam de Deus quando interpolados, não queriam debates,
só queriam viver suas vidinhas “sem Deus”... Hoje é diferente, não basta ser
ateu, tem de usar as mesmas mecânicas da religião-fanática, tem de pregar o
ateísmo, colocar faca no pescoço de religiosos colocando pressão pra se viver uma vida
santa, proliferar a ideia da não existência de Deus pra todo mundo, enfim, ateu
hoje ‘tem até igreja’, (risos).
Esse grupo denominado “neo-ateu”, também tem
sua liberdade religiosa baseada na Constituição, eles tem o direito de viver na
‘não-crença’. É usando isto que entendo que ser ateu é muito mais conveniente
do que ser um religioso ou um crente em Deus com normas éticas pra se viver.
Ser ateu é mais fácil, pois, eles não
precisam dessa pressão ética pra se manter numa linha - e digo ser de Deus não tem na a ver em ser essa espécie de "santo" -, religiosos não, sobre
eles carregam o mandamento do “não pequeis”, “não isso e não aquilo”, tudo pra
saúde do próprio ser... Pra ser ateu não precisa de nada disso, basta ser,
basta dizer ser ateu, basta dizer: “Creio que o mundo fora criado pelo ‘acaso’;
creio que coisas inanimadas vieram a animar vida; creio no estrondo do Big Bang;
creio que Charles Darwin estava certo quando defendia com unhas e dentes a Teoria
da Evolução e que Friedrich Nietzsche bem disse sobre
a “morte de Deus”; e também acabei virando fã após ler o ambiguo e ambivalente Richard Dawkins dizer
que “Deus é um delírio”.
Quando eu não acredito e não tenho regras pra
seguir, não tenho ideia do absoluto, apenas do relativo e de nenhum parâmetro
que deve me guiar, isso acaba sendo em si muito mais fácil dizer ser ateu,
afinal de contas Deus não existe e não tenho que mudar minhas rotas, minhas
direções, minha vida errada; eu sou dono da minha vida e faço dela o que bem
quero. Dizer-se ateu é mais conveniente
pra quem não quer Deus com elemento primário.
No fundo, os ateus vivem uma vida “mais fácil”,
ao mesmo tempo mais solitária.
Pena, muita pena... Vivem sozinhos tendo de
dar conta de toda subversão e imbróglio que lhes acometem sem poderem ser
salvos pelos seus próprios sofrimentos.
Lamento não darem oportunidade a eles mesmos
em clamar naqueles dias que as lágrimas caem quando no sufoco encostam a cabeça
no travesseiro: “Elevo os
meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro?
O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.” (Sl 121:1,2).
Rubens Júnior
28/08/16