segunda-feira, 3 de julho de 2017

Nudez dos pais e filhos na hora do banho: uma escolha familiar


No cotidiano existem várias decisões que os pais devem tomar. Algumas delas se relacionam com a sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é uma energia que motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade. Ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. Dessa forma, a sexualidade ultrapassa os aspetos biológicos e reprodutivos. Ela é parte integrante da personalidade e envolve todo o comportamento do indivíduo e se manifesta a todo o momento, em todo e qualquer espaço em que o sujeito, meninos e meninas, homens e mulheres, estão inseridos.


Portanto, educar sexualmente consiste em oferecer condições para que as pessoas assumam seu corpo e sua sexualidade com atitudes positivas, livres de medo, preconceitos, culpas, vergonha, bloqueios ou tabus. A hora do banho estaria respeitando essas premissas? Nesse sentido, a decisão de tomar banho nu junto aos filhos é delicada e pode representar vários tipos de experiência.

A escolha, portanto, deve passar primeiro pelas seguintes reflexões:

- Você se sente constrangida diante da própria nudez? É importante que os pais percebam, individualmente, enquanto homem e enquanto mulher, como se sentem nus diante dos filhos.
- Você se sente preparada para responder as perguntas que podem surgir antes, durante ou depois da hora do banho a respeito da sexualidade? As dúvidas são sanadas como algo natural?
- Você recebeu uma educação sexual capaz de gerar atitudes de bom senso e de limites para a intimidade diante da nudez com seus filhos?
- Você se sente à vontade para reagir de forma equilibrada ao ser tocada pelos filhos durante a hora do banho?
- Você se despe total ou parcialmente diante dos filhos ou opta por preservar sua intimidade?
- Você sente um prazer explícito ou velado, mesmo que não seja genital, ao ficar nu diante dos filhos, ou trocando-os, por exemplo, mesmo que eles já tenham autonomia para se despirem e vestirem sozinhos?
- O casal escolheu pela nudez na hora do banho ou apenas um dos cônjuges decidiu fazê-lo?
Todas essas questões envolvem culturas familiares de cada um dos cônjuges, nas quais é preciso verificar como a nudez foi tratada, se com normalidade ou não. Entretanto, de forma geral, a cultura mais comum é a de que, quando a criança é pequena, não faz muita diferença tomar banho nu em família. Porém, quando crescem e começam a se interessar pelo corpo dos pais, tentam tocar nos genitais e olham de forma curiosa, os pais podem ter atitudes que passam mensagens de que a sexualidade é algo estranho, feio e que gera constrangimento.
Após os dois anos, a criança deixa de ser centrada em si mesma. Ou seja: ela se dá conta, de fato, da existência do outro, passando a ter maior interesse por ele e interagindo mais com as pessoas a sua volta. Consequentemente, a percepção das diferenças sexuais, a partir do próprio corpo em relação ao corpo de outra criança e do corpo do adulto, se evidencia cada dia mais. Levadas pela curiosidade, elas ficam atentas aos “pipis” e “periquitas” sem malícia ou vergonha, uma vez que a sexualidade é um assunto como qualquer outro.
Acredito que a escolha familiar no que se refere a tomar banho nu com os filhos deve envolver a consciência da sensação de constrangimento, tanto da criança quanto dos pais. Essa sensação revela o limite da privacidade necessária entre as pessoas da mesma família, que pode estar sendo ultrapassado. Não se pode esquecer que, embora os pais se isentem de qualquer inibição ou prazer, diante do nu, para a criança, estar diante do corpo adulto descoberto provoca sensações e sentimentos que ela não é capaz de nomear, como excitação ou identificação com o corpo do adulto.
Por isso, muitas crianças ficam incomodadas com nudez e buscam a privacidade. Desenvolvem a autonomia de forma mais precoce e não aceitam ajuda de ninguém para trocar de roupa, fechando a porta quando despidas etc. Mais do que a vergonha, o que está em jogo é a intimidade, a privacidade, o cuidado e respeito ao corpo.
Os pais podem utilizar essa busca de privacidade da criança para sinalizar que também possuem momentos de intimidade, diferenciando o privado do público. Assim, eles aprendem que existem espaços privativos para intimidade. Que há momentos que são vividos individualmente.
Sendo assim, é preciso considerar que o banho, evento mais comum da exposição do corpo, deve ser da criança ou do adulto. Entretanto, se não houver nenhum tipo de constrangimento entre nenhuma das partes, a prática é considerada possível, embora, não seja algo imprescindível para o desenvolvimento afetivo e sexual da criança.
Finalmente, é preciso considerar que é fundamental desenvolver a autonomia da criança, sendo recomendado que a criança aprenda não apenas a tomar banho sozinha, mas que desenvolva também um autosuporte para crescer sem terceirizar sua conquistas.