No
cotidiano existem várias decisões que os pais devem tomar. Algumas delas se
relacionam com a sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é uma
energia que motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade. Ela
integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. Dessa
forma, a sexualidade ultrapassa os aspetos biológicos e reprodutivos. Ela é
parte integrante da personalidade e envolve todo o comportamento do indivíduo e
se manifesta a todo o momento, em todo e qualquer espaço em que o sujeito,
meninos e meninas, homens e mulheres, estão inseridos.
Portanto, educar sexualmente
consiste em oferecer condições para que as pessoas assumam seu corpo e sua
sexualidade com atitudes positivas, livres de medo, preconceitos, culpas,
vergonha, bloqueios ou tabus. A hora do banho estaria respeitando essas
premissas? Nesse sentido, a decisão de tomar banho nu junto aos filhos é
delicada e pode representar vários tipos de experiência.
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A escolha, portanto, deve
passar primeiro pelas seguintes reflexões:
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- Você
se sente constrangida diante da própria nudez? É importante que os
pais percebam, individualmente, enquanto homem e enquanto mulher, como se
sentem nus diante dos filhos.
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- Você
se sente preparada para responder as perguntas que podem surgir antes,
durante ou depois da hora do banho a respeito da sexualidade? As dúvidas são
sanadas como algo natural?
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- Você
recebeu uma educação sexual capaz de gerar atitudes de bom senso e de limites
para a intimidade diante da nudez com seus filhos?
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- Você
se sente à vontade para
reagir de forma equilibrada ao ser tocada pelos filhos durante a hora do banho?
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- Você
se despe total ou parcialmente diante dos filhos ou opta por preservar sua
intimidade?
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- Você
sente um prazer explícito ou velado, mesmo que não seja genital, ao ficar nu
diante dos filhos, ou trocando-os, por exemplo, mesmo que eles já tenham
autonomia para se despirem e vestirem sozinhos?
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- O
casal escolheu pela nudez na hora do banho ou apenas um dos cônjuges
decidiu fazê-lo?
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Todas
essas questões envolvem culturas
familiares de cada um dos cônjuges, nas quais é preciso verificar como a
nudez foi tratada, se com normalidade ou não. Entretanto, de forma
geral, a cultura mais comum é a de que, quando
a criança é pequena, não faz muita diferença tomar banho nu em família.
Porém, quando crescem e começam a
se interessar pelo corpo dos pais, tentam tocar nos genitais e olham de forma
curiosa, os pais podem ter atitudes que passam mensagens de que a sexualidade
é algo estranho, feio e que gera constrangimento.
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Após os
dois anos, a criança deixa de ser centrada em si mesma. Ou seja: ela se dá
conta, de fato, da existência do outro, passando a ter maior interesse por
ele e interagindo mais com as pessoas a sua volta. Consequentemente, a percepção
das diferenças sexuais, a partir do próprio corpo em relação ao corpo de
outra criança e do corpo do adulto, se evidencia cada dia mais. Levadas pela curiosidade, elas ficam
atentas aos “pipis” e “periquitas” sem malícia ou vergonha, uma vez que a
sexualidade é um assunto como qualquer outro.
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Acredito
que a escolha familiar no que se refere a tomar banho nu com os filhos deve envolver
a consciência da sensação de constrangimento, tanto da criança quanto dos
pais. Essa sensação revela o
limite da privacidade necessária entre as pessoas da mesma família, que pode
estar sendo ultrapassado. Não se
pode esquecer que, embora os pais se isentem de qualquer inibição ou prazer,
diante do nu, para a criança, estar diante do corpo adulto descoberto provoca
sensações e sentimentos que ela não é capaz de nomear, como excitação ou
identificação com o corpo do adulto.
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Por isso, muitas crianças
ficam incomodadas com nudez e buscam a privacidade. Desenvolvem a autonomia
de forma mais precoce e não aceitam ajuda de ninguém para trocar de roupa,
fechando a porta quando despidas etc. Mais do que a vergonha, o que está em
jogo é a intimidade, a privacidade, o cuidado e respeito ao corpo.
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Os pais
podem utilizar essa busca de privacidade da criança para sinalizar que também
possuem momentos de intimidade, diferenciando o privado do público. Assim,
eles aprendem que existem espaços privativos para intimidade. Que há momentos que são
vividos individualmente.
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Sendo
assim, é preciso considerar que o banho, evento mais comum da exposição do
corpo, deve ser da criança ou do
adulto. Entretanto, se não
houver nenhum tipo de constrangimento entre nenhuma das partes, a prática é
considerada possível, embora, não seja algo imprescindível para o
desenvolvimento afetivo e sexual da criança.
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Finalmente,
é preciso considerar que é fundamental desenvolver a autonomia da criança, sendo recomendado que a criança aprenda
não apenas a tomar banho sozinha, mas que desenvolva também um autosuporte
para crescer sem terceirizar sua conquistas.
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