quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A negatividade da formação psíquica na criança que é exposta a sexo e erotização precoce, até no Youtube


Você coloca um vídeo inocente da Peppa Pig para o seu filho assistir e vai fazer alguma coisa em outro cômodo, mas quando volta para a sala, a mesma Peppa Pig se transformou em uma coisa estranha, violenta e medonha.  Sexo explícito em Sonic, um pé gigante pisando em bichinhos e causando terror aos personagens, objetos pontudos sendo espetados na Elsa de Frozen, brigas com muito sangue entre personagens até então considerados fofos e inocentes.

Esses são alguns exemplos de cenas de vídeos na internet camuflados no meio de tantos outros vídeos infantis.A minha filha entrou na função do YouTube na TV pra ver uns vídeos de rock infantil que ela gosta. Depois, meu filho pediu pra ver um vídeo do Sonic e ela colocou, só que o vídeo era o Sonic fazendo sexo com uma outra personagem. Quando entrei na sala e vi, a minha filha já estava tirando porque ela viu que tinha algo errado”, relata Lara Duarte, mãe de Evelyn, de 9 anos e Luiz Otávio de 3 anos. E isso é mais comum do que imaginamos, basta perguntar a qualquer pessoa que deixa os filhos terem acesso à internet e elas irão relatar problemas como esse.

Segundo o psiquiatra Dr. Wendell Ribeiro, é considerado impróprio aquele tipo de conteúdo que pode interferir negativamente na formação da estrutura psíquica da criança. “São aqueles os quais ela ainda não tem condições emocionais ou cognitivas para entender, significar e elaborar de maneira adequada, por exemplo, sexo, violência, uso de drogas, e várias outras”, explica o especialista. 

Ele ainda explica que a criança que é exposta a isso pode apresentar sérios problemas. “A exposição demasiada a conteúdos impróprios para idade como cenas de sexo ou violência (1)pode levar a uma erotização precoce, (2)induzir à agressividade, (3)ao aumento de condutas opositoras e desafiadoras, ou até mesmo (4)a confusão de fantasia com a realidade. É normal que, (5)na fase pré-escolar, elas demonstrem, por exemplo, curiosidades em relação à descoberta dos genitais, (6)diferenças entre meninos e meninas, (7)como vieram ao mundo, mas no período escolar, a força dos impulsos sexuais é direcionada para o desenvolvimento social, afetivo e intelectual, conhecida como fase de latência, para depois retornar mais intensamente na puberdade. Uma estimulação sexual precoce pode comprometer esse direcionamento e o desenvolvimento da mente. Consequentemente, podemos observar (1)aumento de ansiedade, (2)medos infantis, (3)alterações de sono, (4)sintomas depressivos, (5)problemas na interação social e (6)prejuízo do rendimento escolar”, diz.

Um clichê em especial é muito pertinente em relação a este assunto: é melhor prevenir do que remediar!  Mas, como essas coisas podem acontecer mesmo que você tome todos os cuidados, é preciso saber como agir. “Podem ser adotadas medidas para diminuir essa exposição, escutar e conversar com a criança de modo que ela entenda e procurar ajuda especializada, como um suporte médico ou psicológico caso tenha algum problema maior que vai desde atraso no desenvolvimento até transtornos mentais”, orienta o médico.

O fato é que aplicativos e outros recursos para evitar que isso não aconteça, não são muito divulgados e, muitas vezes, acabam passando despercebidos. O Kiddle, por exemplo, que é uma variação do Google, só que para crianças, filtra tudo que possa ter qualquer conteúdo impróprio, assim como o Youtube Kids, que também só deixa disponíveis materiais realmente adequados para crianças.

Lara hoje toma mais cuidado. “Não deixo mais que eles acessem o Youtube. Era um vídeo que a criança olha e vê o personagem, então ele abre achando ser o desenho e se depara com cenas de sexo. Me senti tão desprotegida e vulnerável sabe, com medo mesmo”, conta. É, Lara, o perigo está onde a gente menos espera.