Você coloca um vídeo inocente da Peppa Pig para o seu filho assistir e vai fazer alguma coisa em outro cômodo, mas quando volta para a sala, a mesma Peppa Pig se transformou em uma coisa estranha, violenta e medonha. Sexo explícito em Sonic, um pé gigante pisando em bichinhos e causando terror aos personagens, objetos pontudos sendo espetados na Elsa de Frozen, brigas com muito sangue entre personagens até então considerados fofos e inocentes.
Esses são alguns exemplos de cenas de vídeos na internet camuflados no meio de
tantos outros vídeos infantis. “A minha
filha entrou na função do YouTube na TV pra ver uns vídeos de rock infantil que
ela gosta. Depois, meu filho pediu pra ver um vídeo do Sonic e ela colocou, só
que o vídeo era o Sonic fazendo sexo com uma outra personagem. Quando entrei na
sala e vi, a minha filha já estava tirando porque ela viu que tinha algo errado”,
relata Lara Duarte, mãe de Evelyn, de 9 anos e Luiz Otávio de 3 anos. E isso é
mais comum do que imaginamos, basta perguntar a qualquer pessoa que deixa os
filhos terem acesso à internet e elas irão relatar problemas como esse.
Segundo o psiquiatra Dr. Wendell
Ribeiro, é considerado impróprio aquele tipo de conteúdo que pode interferir negativamente na formação
da estrutura psíquica da criança. “São
aqueles os quais ela ainda não tem condições emocionais ou cognitivas para
entender, significar e elaborar de maneira adequada, por exemplo, sexo,
violência, uso de drogas, e várias outras”, explica o especialista.
Ele ainda explica que a criança que é exposta a isso pode apresentar sérios
problemas. “A exposição demasiada a
conteúdos impróprios para idade como cenas de sexo ou violência (1)pode
levar a uma erotização precoce, (2)induzir à agressividade, (3)ao
aumento de condutas opositoras e desafiadoras, ou até mesmo (4)a
confusão de fantasia com a realidade. É normal que, (5)na fase pré-escolar,
elas demonstrem, por exemplo, curiosidades em relação à descoberta dos
genitais, (6)diferenças entre meninos e meninas, (7)como vieram
ao mundo, mas no período escolar, a força dos impulsos sexuais é
direcionada para o desenvolvimento social, afetivo e intelectual, conhecida
como fase de latência, para depois retornar mais intensamente na puberdade. Uma
estimulação sexual precoce pode comprometer esse direcionamento e o desenvolvimento
da mente. Consequentemente, podemos observar (1)aumento de ansiedade, (2)medos
infantis, (3)alterações de sono, (4)sintomas depressivos, (5)problemas na
interação social e (6)prejuízo do rendimento escolar”, diz.
Um clichê em especial é muito pertinente em relação a este assunto: é melhor
prevenir do que remediar! Mas, como essas coisas podem acontecer mesmo
que você tome todos os cuidados, é preciso saber como agir. “Podem ser adotadas medidas para diminuir
essa exposição, escutar e conversar com a criança de modo que ela entenda e
procurar ajuda especializada, como um suporte médico ou psicológico caso tenha
algum problema maior que vai desde atraso no desenvolvimento até transtornos
mentais”, orienta o médico.
O fato é que aplicativos e outros recursos para evitar que isso não aconteça,
não são muito divulgados e, muitas vezes, acabam passando despercebidos. O
Kiddle, por exemplo, que é uma variação do Google, só que para crianças, filtra
tudo que possa ter qualquer conteúdo impróprio, assim como o Youtube Kids, que
também só deixa disponíveis materiais realmente adequados para crianças.
Lara hoje toma mais cuidado. “Não
deixo mais que eles acessem o Youtube. Era um vídeo que a criança olha e vê
o personagem, então ele abre achando ser o desenho e se depara com cenas de
sexo. Me senti tão desprotegida e vulnerável sabe, com medo mesmo”, conta.
É, Lara, o perigo está onde a gente menos espera.